Kyrie Eleison
terça-feira, 17 de junho de 2025
Alma Pátria 72: José Afonso, Balada de Outono
domingo, 15 de junho de 2025
Prosa dos dias (33) Ridículo
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Ilse Bing, Cancan Dancers, Moulin Rouge, 1931 |
sexta-feira, 13 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (15)
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Máximas (25)
segunda-feira, 9 de junho de 2025
Uma grave cegueira
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Diego Rivera, Las Ilusiones, 1944 |
sábado, 7 de junho de 2025
Encontros
Outro encontro inesperado foi dos jovens rapazes com a sua
masculinidade. Encontraram-na na cabine de voto. É de homem, pensaram ao pôr a
cruz. O mundo tornou-se um lugar difícil para muitos jovens do sexo masculino.
A escola é uma coisa boa para encontrar amigos, mas estudar é uma chatice.
Coisa de meninas. E as meninas assim o fazem. Ocupam o topo dos resultados e
entram nas faculdades que pretendem, para cursos que dão rendimentos
interessantes, e em que cada vez menos rapazes entram. Uma masculinidade ferida
pelas exigências escolares encontra a sua redenção na cruz do voto. O salvador
irá pôr as mulheres no sítio, abolir a necessidade do esforço escolar e dar aos
homens aquilo a que têm direito.
Outro encontro feliz foi o do eleitor atormentado com a
presença de imigrantes. Foi à cabine de voto para se desencontrar com eles e
encontrar-se consigo. Pouco lhe interessa que sejam o trabalho e as
contribuições desses imigrantes que lhe permitirão ter uma reforma, quando
chegar o dia. Imigrantes, coisa horrível, tornam feia a paisagem humana da
pátria, uma poluição visual. Mais vale morrer de fome aos 70 anos, do que
suportar estas pessoas a fazerem aquilo que os portugueses não querem fazer,
contribuir para que a economia não se afunde e a Segurança Social não colapse.
De súbito, o eleitor atormentado descobriu a sua vocação: mártir em nome da
pureza da raça.
Todo o resto, nas eleições de 18 de Maio, foram
desencontros. Os partidos de esquerda desencontram-se com o seu eleitorado,
quem sabe se num divórcio irremediável. A Iniciativa Liberal e o Livre subiram,
mas desencontraram-se com os seus objectivos: a potência foi menor que o
desejo. Até a AD de Luís Montenegro, apesar da vitória e do crescimento, se
desencontrou com uma maioria que lhe permitisse fazer o que lhe vai na alma. Os
portugueses – parte substancial, não se generalize – parecem muito animados e desejosos
de ver o país mergulhado na confusão. E como se sabe, não há melhor lugar para
encontros do que a confusão.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Comentários (29)
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Pablo Picasso, The Bottle of Wine, 1925-1926 |
terça-feira, 3 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (14)
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Teresa Magalhães, sem título, 1981 (Gulbenkian) |
Se o dia cai
em teus olhos,
um augúrio
de água
ergue-se
na voz
lêveda do mar.
[1993]
domingo, 1 de junho de 2025
Por detrás dos resultados eleitorais
sexta-feira, 30 de maio de 2025
Nocturnos 129
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Partido Socialista - uma pulsão de morte
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Jean-Michel Basquiat, Riding with Dead, 1988 |
segunda-feira, 26 de maio de 2025
Simulacros e simulações (73)
sábado, 24 de maio de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (13)
quinta-feira, 22 de maio de 2025
Beatitudes (80) Poente
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William Gordon Shields, Sunset on New York Bay, 1915-20 |
terça-feira, 20 de maio de 2025
Abandonados pelo voto popular
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Camille Pissarro, Fiesta en la ermita, 1878 |
Um dos dados mais importantes das eleições de domingo foi o
abandono da esquerda pelo voto popular. Os resultados são aterradores para os
partidos tradicionais de esquerda. Não apenas porque, no conjunto, estão
reduzidos no número de deputados – 68 em 230, mas porque o eleitorado que os
abandonou muito dificilmente retornará. Parte substancial do eleitorado do
Chega (isto já tinha acontecido nas eleições do ano passado) vem da esquerda.
São pessoas que estão revoltadas com a sua situação social e cansaram-se tanto
do reformismo socialista como da retórica revolucionária do Partido Comunista e
do Bloco de Esquerda.
Não querem saber de transformações colectivas, nem da luta
dos trabalhadores ou das minorias. O centro do seu interesse político é a sua
vida. Votaram no partido que imaginam dar corpo à sua revolta. É uma esperança
do desespero. Imaginaram, durante muito tempo, que seria a política de esquerda
que levaria o Estado a resolver os seus problemas. Como o Estado é impotente
para o fazer, pois cada um depende de si mesmo, mudaram não o modo de pensar,
mas o sentido de voto. Tornam a imaginar que um partido ou o seu líder lhes resolverá
o problema. É uma ilusão que levará tempo a ser desfeita.
domingo, 18 de maio de 2025
Falando de democracia
O filósofo norte-americano David Estlund, numa resposta à ideia de um regime epistocrático (um regime onde o governo estaria na mão dos sábios), argumenta que a participação colectiva produz, tendencialmente, melhores resultados do que uma governação de peritos isolados. Há em Estlund uma aposta razoável na competência da comunidade em fazer escolhas. Contudo, esta aposta tem um problema. Ela é, na verdade, baseada numa apreciação empírica das democracias. Não há uma relação necessária – e a priori – entre decisão colectiva e boa decisão. Podemos mesmo estar a entrar numa fase em que, devido à grande complexidade da vida social, as comunidades, movidas pelo sentimento, a emoção e o ressentimento, façam escolhas péssimas. Os primeiros tempos da nova administração Trump parecem dar argumentos a esta visão. Assiste-se, nos dias de hoje, a verdadeiros testes a essa sabedoria colectiva. E não é líquido que ela tenha nota positiva.
sexta-feira, 16 de maio de 2025
Um novo Papa
O Sumo Pontífice não é apenas o sucessor de Pedro. Este,
além de uma pessoa, é uma função. Por isso, qualquer Papa é, de novo, Pedro, a
pedra sobre a qual o Cristo edifica a sua Igreja. Se olharmos para os textos
evangélicos, encontramos dois episódios centrais para compreender esta função
entregue a um ser humano. Em primeiro lugar, o reconhecimento. A função petrina
é instaurada após a pergunta de Cristo: Quem dizeis vós que Eu sou? E
Simão Pedro responde: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. Contudo, a interpretação
deste episódio não pode ser desligada da leitura de um outro: o da tripla
negação de Cristo por Simão Pedro, na noite em que Jesus foi preso pelos
poderes deste mundo e a sua Paixão era iminente. Qualquer Papa vive na tensão
entre o reconhecimento de Cristo e a negação desse reconhecimento perante o
perigo. Essa negação é, na verdade, a condescendência submissa aos poderes
deste mundo.
As tentações conservadoras e progressistas dos Papas são as
três negações de Pedro, no mundo moderno, perante a proximidade da Paixão do
Mestre. São a cedência aos poderes do mundo, às suas paixões políticas e ao
temor perante o significado da Paixão crística. Isto não torna os Papas
heréticos. Mostra-os, à semelhança de Pedro, como homens frágeis perante um
acontecimento que ultrapassa a compreensão humana. A função papal inclui, deste
modo, o reconhecimento de Cristo como Filho de Deus, mas também a negação de
que se pertence ao seu mundo. João Paulo II é louvado pela sua luta contra o
comunismo; Francisco, pela sua denúncia da injustiça social. Ora, em ambos os
casos, isso constitui a fraqueza perante a Paixão eterna do Filho de Deus. É a
sua negação. Contudo, esta negação não ofusca o essencial: a resposta à
pergunta Quem dizeis vós que Eu sou? Na economia da crença católica, o
Papa é o que diz: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.
quarta-feira, 14 de maio de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (12)
segunda-feira, 12 de maio de 2025
Simulacros e simulações (73)
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Eduardo Anahory, sem título, 1983 (Gulbenkian) |
sábado, 10 de maio de 2025
Prosa dos dias (32) Coroação
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Hans Baumgartner, Der Milchmann. Zürich, 1938 |